Não gosto muito de assistir a filmes de terror. Mas confesso que tenho uma especial admiração por O iluminado, de Stanley Kubrick, baseado na história de Stephen King. É uma história de terror, mas não é sanguinolenta (com exceção de umas duas cenas). A história é basicamente essa: Jack é contratado para cuidar de um hotel super luxuoso, durante o período do inverno, com sua esposa Wendy e seu filho Danny.
Quando Jack é contratado, explicam a ele que há uma lenda de um assassinato que ocorreu no hotel: um pai matou suas filhas. Para ele, contudo, não há problemas. Como se esse não fosse o único problema, Danny é dotado de alguma habilidade estranha. Por exemplo, a imagem das irmãs sempre aparece para ele, tanto vivas quanto mortas, e o quarto sujo de sangue. Contudo, essas imagens não são predominantes. O que fica em evidência é a tensão de um pai que muda radicalmente quando chega ao hotel, a hostilidade como trata a esposa – principalmente quando ele não quer mais que seja incomodado enquanto escreve (ele é escritor). Essa tensão chega ao clímax exatamente quando ela descobre o que ele está escrevendo, que é repetição da frase “Muito trabalho e pouca diversão faz de Jack um bobalhão”. Pouco tempo depois é que o pai começa a perseguir mulher e filho. E é nesta parte que eu queria chegar.
É inegável a influência da trilha sonora na construção narrativa de qualquer sequência fílmica. Ela pode alterar o sentido de qualquer cena. Se colocada uma música mais calma, uma mais agitada, seja uma clássica ou heavy metal, o resultado final da cena será diferente, irá causar diferentes recepções e interpretações. Em outras palavras, outro sentido. Isso porque cada melodia carrega diferentes tipos de ideologia. Cada uma traz consigo traços que já são conhecidos por nós. Isso significa que elas carregam um significado anterior. Funciona como uma espécie de dialética, que se dá na seguinte fórmula: a) sequência fílmica + b) trilha sonora = c) um novo sentido.
Para exemplificar bem a teoria, utilizo aqui uma sequência do filme. A primeira trilha é a música Careful that axe, Eugene, do Pink Floyd. A segunda é Outono, do Vivaldi.
Digam o que acham aí nos comentários.
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Diego Zerwes |
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É publicitário (UP) e Especialista em Literatura Brasileira e História Nacional (UTFPR). Trabalha na Comunicação do Colégio Medianeira. É tradutor (diletante) da vasta obra musical de Leonard Cohen, publicada periodicamente no Traduzindo Leonard Cohen. Leia outros artigos dele aqui. |
Diego,
Gostei muito de seu post sobre a construção do sentido a partir da junção imagem+som…
Para complementar e “botar lenha na fogueira”, gostaria de sugerir o filme “Vermelho como o céu” (Rosso Come Il Cielo),que mostra a historia de Mirco, um garoto apaixonado pelo cinema, que, ao sofrer um acidente em sua casa, têm a sua visão prejudicada e se vê obrigado a estudar em uma escola para cegos na Itália. Lá, ele procura desenvolver sua habilidade por efeitos sonoros em filmes e com ajuda de um professor monta uma peça formada apenas por diálogos e sons. Baseado na historia de Mirco Mencacci, um renomado editor de som da indústria cinematográfica italiana.
Sara – Colégio Catarinense – Florianópolis
Olá, Sara. Antes de mais nada, obrigado pela visita e pelo comentário.
Isso que vou escrever pode soar meio bizarro. Mas se um dia eu tivesse que escolher entre ficar sem a visão ou a audição, eu preferia parar de falar. Eu não consigo me imaginar sem a possibilidade de ler e ouvir. Pra falar, a gente consegue por outros meios.
E valeu pela dica do filme, quem sabe mais pra frente ele não se torna um post aqui do blog?
Um abraço, Diego.
[…] que vai com sua família cuidar de um hotel que está fechado por conta de um inverno rigoroso. Ele já foi tema também de um outro texto aqui do Midiaeducação. Os atores foram extremamente cobrados por Stanley Kubrick, o que pode explicar a tamanha […]