Quando pensamos em bebês e filhos e crianças, é sempre difícil fugir de clichês. Aliás, falar que é difícil fugir dos clichês quando pensamos em bebês e filhos e crianças já tem cheiro de clichê. Mas, se falarmos que seria um clichê dizer que é um clichê falar de bebês, filhos, crianças… Bem, aí já tem cheiro de chatice.
Vamos começar de novo.
Por que será que é difícil falar de bebês e filhos e crianças sem cair nos clichês? Em primeiro lugar, quem disse que as frases feitas sobre o assunto são falsas? Qual o problema com o clichê? Ele revela uma dimensão comum a um número de pessoas que passam por experiências similares. Sei que buscar um olhar diferente sobre um fato comum é uma virtude – aliás, muito cara à arte, à educação, à vida –, mas a identificação de um sentimento, mesmo que baseado em senso comum, não é necessariamente pobre ou prejudicial à saúde criativa. Digo isso porque sempre me deparei com imagens “cuti-cuti” relacionadas a bebês, do tipo risadinhas, pais falando de “amor incondicional”, mensagens-no-estilo-e-mail-com-Power-Point onde belos bebês mordem os próprios pés, vestem roupas muito maiores do que eles, chupam o dedo, fazem sonzinhos guturais em língua que nós, pobres ignorantes, não conseguimos entender. Sempre olhei isso com um certo encanto distanciado, quase indiferente.
Até virar pai.
Súbito, todos os substantivos tão comuns viram substantivo próprio, fazem sentido pleno e se revestem e vestem com uma força implacável de novidade, com uma roupa totalmente tingida de cores insuspeitadas. E aquele outro clichê insosso, que diz que junto com a criança nascem também um pai e uma mãe, ganha uma carga de ineditismo que deixa de ser verbo para se fazer carne e osso. E sorriso.
Quando eu estudava Literatura mais profissionalmente, aprendi a gostar muito da chamada Teoria da Recepção, que, grosso modo, diz que o leitor não apenas retira significados de um texto, mas também coloca significados nele. Concedendo-me uma licença teórica, vejo bons paralelos (ou perpendiculares) entre essa teoria e a releitura ressignificada dos clichês. Assim, uma risadinha igual ao de inúmeras crianças que nasceram e nascem todos os dias tem um sentido novo, um gosto único e até parece que quanto mais igual à risadinha plantada tantas vezes em nosso imaginário, melhor. Pra que rir diferente? Dane-se a criatividade da risadinha infantil. Eu quero aquela risadinha clichê, chavão, senso-comum mesmo. Ela costura alegrias iguais, numa confraternização invisível de pais do mundo todo e de todos os tempos. Os clichês também são bem-vindos.
Não existem só eles, porém.
Vamos e venhamos – e quem é pai sabe (estou achando super chique poder dizer uma frase como essa!) –, existe também uma espécie de submundo do prazer, um porão onde risadinhas não entram, um lugar onde habitam prazeres esquisitos, diferentes. Eu diria… estapafúrdios: quem, em sã consciência não paterna/materna, pode supor que é possível encontrar felicidade ao se ouvir um arroto? Quem, dentro de uma vida equilibrada, poderia imaginar prazeroso sentir na mão uma fralda recém-tirada, quentinha e cheia? Quem, do alto da vida sadia, estando com as duas mãos ocupadas tentando fazer uma criaturinha dormir, poderia ficar radiante ao encontrar uma quina de porta para poder coçar o queixo?
Essas e outras me fazem pensar que ter um bebê pra chamar de seu tem a benfazeja capacidade de renovar clichês e nos fazer descobrir prazeres novos, estranhos, mas autênticos e engraçados.
E o humor é, ao lado de vários sentimentos-clichês, um pilar importante para a salubridade de qualquer relação.
Aquele abraço!
OBS: ah, mas notem: se o arroto e a fralda cheia vierem depois de intermináveis minutos de cólica e choro, tudo fica sinistramente melhor! Coçar o queixo é banal, mas se você estiver com as duas mãos ocupadas, a quina da porta será um oásis redentor! Ou seja, além da alegria pelo ato em si, há a alegria redobrada pelo salto brusco de uma situação angustiante para o conforto total.
Afinal, ninguém faz show pirotécnico durante o dia.
Ele fica mais bonito com o contraste da noite.
[…] This post was mentioned on Twitter by Colégio Medianeira, Cezar Tridapalli. Cezar Tridapalli said: Um bebê et cetera http://bit.ly/hqsmC9 […]
Bem, então bem-vindo ao mundo dos clichês com olhares múltiplos.E alegrias ilimitadas por coisa qualquer.
Bjao e parabéns!
Val, que beleza! Gostei da expressão "clichês com olhares múltiplos". É uma forma menos clichê de encarar o clichê, haha.
Bjus e obrigado!
Em todo clichê há algo de universalizante, que quando vivido de maneira particular, faz todo sentido e tem toda graça e emoção!!!
Sou suspeita em falar, mas adorei a matéria.
Como mãe há poquíssimo tempo, acabo com um clichê cheio de obviedades: ter um filho é viver coisas que em nenhum outro lugar se vive. É tudo de mais trabalhoso, maravilhoso, transformador e realmente se conhece o tal AMOR INCONDICIONAL. Um amor que ama até as fraldas cheias rsrs
…e quando essass criaturinhas essencialmente fofas crescem um pouco, tagarelam, correm e mexem em e por tudo, olha que ainda assim e cansado das horas de trabalho, ainda assim é bom demais concluir (e com sabedoria):
Tanto melhor que estejam fazendo bagunça e tardando um pouco a dormir (e a nos deixar dormir), pois, enquanto criança, se estiverem amuadas, pouco ativas, digamos dopadas diante de uma tela qualquer, aí é que a gente deve de fato se preocupar e perder o sono.
clicles e um bebe muito bonito o seu olhar penetra e mostra como ele e a luz so dia mostra como ele realmente e o seus olhos sao fatal ate dificil de encarar . clicle sera muito abençoado porque deus o fez dessa maneira e jamais alguem ira mudar a lei de deus . somos todos iguais masum de seu jeito que deus abencoi todos que concordar comigo. bjhussssssss
de:jessica rechal