Neste ano de 2015, o Núcleo de Linguagens da 3ª série do Ensino Médio, assim como nas séries anteriores, tem propiciado o constante contato com temáticas que estejam sendo debatidas pela sociedade localóglobal. Além disso, também é caro para o núcleo o enfoque de temáticas recorrentes abordadas no ENEM e exames externos de maneira geral. O objetivo é permitir aos alunos, em nível pré-universitário, o aperfeiçoamento de um olhar crítico em uma atitude de permanente contato com a realidade, com os fatos recentes e com a maneira com que tais fatos vão se articulando e formando o grande mosaico contextual do ano de 2015.
Em um dos primeiros momentos deste ano, os alunos do terceirão opinaram, em um Fórum no Moodle, acerca de uma das temáticas encontradas nos protestos do dia 15 de março de 2015: o pedido de uma intervenção militar no país. As postagens no Fórum responderam a seguinte questão: Qual é a sua opinião sobre aqueles que defendem uma intervenção militar no país?
Abaixo, selecionamos algumas das postagens como forma de socializarmos a produção acadêmica dos alunos com a comunidade do Colégio, extrapolando a discussão desta importante questão para todos os que costumam visitar o blog.
Confira:
Defender a ditadura militar sabendo o que ela representa é assustador nos tempos de hoje. Os que defendem tal sistema de governo, ou devem fazer parte de uma juventude sedenta por uma ideologia, seja ela qual for, e preguiçosa para estudar o que se defende, ou são indivíduos que viveram no período da intervenção mas que fazem parte de uma classe social que, na época, não precisou encarar o que acontecia de fato no país, ou, ainda, trata-se de um grupo conservador extremo e fascista. Independentemente, defender a ditadura é defender as torturas, a injustiça, a falta de liberdade, uma economia gerenciada por mentiras e cheia de dívida externa. Nos protestos do dia 15 de março, mesmo sendo minoria, os defensores do militarismo eram “estridentes”, como o deputado Jean Wyllys disse no programa Havana Connection do dia 24 de março, e a presença destes só aumentou o clima de ódio de muitos manifestantes, ajudando na descaracterização de um movimento que até então só exigia a ruptura do ciclo de corrupção,inflação e mal gerenciamento do governo federal atual.
por Patrícia Klingelfus Polzl
Defender a ditadura nos dias atuais é algo que parece ser plausível para alguns que vão contra o governo atual e que acreditam que uma intervenção militar seria o único método que resolveria todos os problemas do país. Os que acreditam devem fazer parte de uma mínima parcela da população ou extremamente conservadora ou que não possuem informação alguma sobre o que realmente aconteceu durante o período. Defender a ditadura é crime. Nas manifestações do dia 15/03/2015 em Curitiba, 46% das pessoas defenderiam uma intervenção militar, provando novamente que muitos faltaram algumas aulas de história. O que muitos não param para pensar é que, muito do que acontece atualmente é reflexo de um passado não resolvido. Um período ditatorial é marcado por opressão e censura e, nem metade do que acontece hoje estaria acontecendo, se pararmos para pensar. Cidadãos contra o governo estariam desaparecidos ou até mesmo mortos. Defender a ditadura é defender o direito de ficar calado.
por Ana Luiza Stamato Delazari Skroch
Dentro das características políticas atuais, é certo que a insatisfação do povo – apresentada nas manifestações de 15/03 – é justificável e mais do que correta. No meio desse caos, o brado de uma minoria chamou atenção “Queremos intervenção militar.”. As razões que motivaram esses urros antidemocráticos podem ser infinitas, mas todas injustificáveis.
O período ditatorial brasileiro foi um período de pura violência à liberdade de expressão e de opinião, puro atentado à diversidade cultural e, talvez, a própria felicidade. Liberdade essa, que foi abafada por uma força opressora equivalente a um nazismo ainda não abdicado. Em uma época como essa, não poderiam ser expressas essas opiniões desinformadas que agora vêm à tona.
Diante da ideia de que ainda há tanta desinformação (e só pode ser esse o motivo) sobre a ditadura ocorrida em nosso próprio território, só resta uma solução: trazer à tona todos os aspectos mascarados desse período, juntamente com o reforço educacional que possa chegar à qualquer indivíduo e evidencie dentro das salas de aula uma consciência política, que mais do que “reivindica por melhorias” mas também propõe formas de melhora e caminhos que podem ser seguidos pelo governo e pelos cidadãos, sem ferir nossa liberdade de expressão e nem os direitos humanos.
E para quem acredita que a intervenção é constitucionalmente justificada:
http://senadofederal.tumblr.com/post/91381136797/intervencao-militar-para-preservar-a-lei-e-a
por Leonardo Yamada Ito
Intervenção militar? Não obrigada!
A ditadura militar brasileira (1964-1985) foi um golpe de estado. Essa época foi marcada pela extinção de direitos constitucionais, opressão policial e militar. A partir dela temos a famosa censura.
A censura privou brasileiros da liberdade de expressão principalmente na área das artes, vistas ainda como “cultura inútil” e por conta dessa repressão as musicas brasileiras demonstravam a revolta causada no povo. Assim a MPB e seus compositores foram censurados, apagados, punidos e exilados do país. Isso porque o militarismo a considerava nociva ao estado e capaz de fazer mal a população.
Esse contexto é manifestado claramente na musica “roda viva” de Chico Buarque Holanda, cantor e compositor exilado que retornou ao Brasil e ainda faz sucesso com suas canções.
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá
Roda mundo (etc.)
A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a viola pra lá
por Letícia dos Santos Rodrigues Lemos
É inegável que no período da ditadura militar, o país cresceu acima de 10% ao ano – o chamado “Milagre Econômico”. Entretanto, quem usufruía dessa riqueza era a classe mais abastada: em 1980, 51% de toda a renda ia para os mais ricos, que somavam 10% da população. Em contrapartida, o salário mínimo foi totalmente desvalorizado:
“Com o golpe de 1964 e a implantação da ditadura, um novo modelo econômico foi imposto. O pacto entre os militares e os empresários era pela promoção do crescimento econômico e realização de investimentos públicos e privados. E assim foi feito. Mas foi um modelo concentrador de renda que dilapidou o salário mínimo. A ideia que justificava esse modelo foi expressa pelo então ministro Delfim Neto que dizia que era necessário, primeiro, fazer o bolo crescer para, depois, distribuí-lo.”
Durante o regime militar, a saúde também era negligenciada. Nas unidades públicas, só era atendido quem possuísse carteira assinada, e “para os militares era melhor remediar que prevenir”. Era muito mais fácil conseguir atendimento em hospitais particulares, que concentraram 98% de internações no ano de 1976. Além disso, o saneamento básico atingia pouquíssimas casas, o que aumentava o número de doenças.
Deixando de lado estatísticas, o período ditatorial foi marcado pela implementação de vários atos institucionais, dentre eles o AI-5, que limitou a liberdade de expressão, piorou a censura e retirou o direito político dos cidadãos brasileiros.
“O AI-5 suspende todas as garantias constitucionais e individuais. O poder do Executivo passa a ser ilimitado. O habeas corpus para os crimes políticos é suspenso. O Congresso Nacional e a Assembleia Legislativa são postos em recesso. A temporada de cassações é reaberta: com o ato, o presidente pode cassar mandatos e aposentar funcionários civis e militares. Espetáculos, filmes, peças, programas de rádio e TV, jornais, revistas e letras de músicas são alvos da censura. Nos jornais, espaços vazios deixados pelos censores são substituídos por receitas ou trechos de poemas. Perseguidos, vários artistas e intelectuais deixam o país. Anônimos também partem para o exílio forçado ou voluntário.”
Também é necessário mencionar os muitos torturados, mortos, exilados e “desaparecidos”. Na maioria dos casos, não se sabe ainda o que aconteceu com essas pessoas (que, infelizmente, viraram estatísticas). Se opor ao regime de qualquer maneira era suficiente para “estar na mira” dos militares – e isso não excluía ninguém, de nenhuma classe social.
É importante perceber que, se uma ditadura fosse instaurada nos dias atuais, as medidas tomadas seriam diferentes das de 1964-1985 – até porque as circunstâncias são outras. Existem outras maneiras de mudar a política que não uma ditadura. Não vale a pena arriscar nossa liberdade política, acentuar diferenças sociais e perder vidas inocentes por causa de uma insatisfação com o governo.
Para saber mais:
http://www.cartacapital.com.br/economia/salario-minimo-na-ditadura-e-hoje-643.html
http://super.abril.com.br/blogs/historia-sem-fim/10-mitos-sobre-a-ditadura-no-brasil/
http://letras.mus.br/chico-buarque/45121/
por Laís Cristofolini Salgueiro
O texto do Ato Institucional n°5 (documento mais relevante do governo militar brasileiro) começa com um discurso muito familiar ao que temos ouvido nas ultimas semanas, com promessas de que as tais ações “visavam a dar ao País um regime que, atendendo às exigências de um sistema jurídico e político, assegurasse autêntica ordem democrática, baseada na liberdade, no respeito à dignidade da pessoa humana, no combate à subversão e às ideologias contrárias às tradições de nosso povo, na luta contra a corrupção”. Mas logo abaixo o texto começar a esboçar um corpo formidável de ações contrárias a qualquer conceito de democracia. Instaurava-se então uma política repressiva com o pretexto de proteger a nação de supostos “atos nitidamente subversivos, oriundos dos mais distintos setores políticos e culturais”. Entre tais medidas estavam:
1 – Perda das liberdades individuais. Dá ao governo militar poderes de aplicar “medidas de segurança” no sentido de, entre outros, vigiar a liberdade, proibir a liberdade de ir e vir, negar habeas corpus em crimes políticos e negar aos réus que praticarem atos contra a vontade do governo, o direito ao Devido Processo Legal.
2 – Perda dos direitos políticos. Os juízes, por exemplo, tiveram suas garantias tiradas, perdendo assim sua capacidade de agir “sem medo” de represaria, e os cidadãos comuns perderam de vez o direito de votar e de ser votado, o que formou o conchavo político necessário para que os militares tivessem o total controle da máquina pública.
3 – Perda da liberdade de imprensa. Esse é um ônus importantíssimo, já que, através do controle dos meios de comunicação que o governo militar conseguiu iludir os brasileiros menos engajados, vendendo a eles a mentira de que o país ia bem, coisa que até hoje influencia a opinião do povo. É comum, por exemplo, ver gente dizendo que o Brasil era mais desenvolvido nesse período, com melhor educação e menos violência, mas pouco dessas pessoas sabem a que preço tudo isso foi conquistado, o preço da liberdade.
por Fernanda Altenburger
Todo cidadão possui o direito de protestar e de se expressar. No entanto, durante as manifestações do dia 15/03, muitas pessoas se mostraram a favor de uma intervenção militar e do retorno da ditadura. Assim como incitações nazistas e fascistas, essas “opiniões” deveriam ser consideradas crime. Pessoas que defendem esse ponto de vista são de extremo conservadorismo, e estão usando a sua liberdade de expressão para acabar – ironicamente – com a liberdade de expressão de uma nação toda.
E a ditadura de 64 não feriu apenas a liberdade da população: ela prejudicou também o setor econômico. A inflação ultrapassou 200% e a dívida externa saiu de quase zero para mais de 100 milhões de dólares.
Simplesmente não há motivo para uma intervenção militar. O que a população deve fazer é trabalhar com o sistema democrático que já existe – pois este sim ouve a todos.
por Bruno Henrique Paschoal Quirino
Mais do que um crime democrático ou, até mesmo, mais grave que um assassinato. A questão é extremamente delicada, mas quem pede a volta dos ideias da Intervenção Militar é capaz de humilhar até a sua própria imagem como cidadão. Aliás, essa palavra existe em ditaduras?
Ser um cidadão é ter direito a vida, a liberdade, a propriedade, a igualdade perante a lei. A ignorância e a falta de conhecimento profundo são poucas para expressar a grande falta de consideração que estes “cidadãos” demonstraram a todo o povo brasileiro durante os protestos ocorridos no dia 15/03/2015.
O principal argumento a favor da Intervenção Militar é que seus ideais de ordem e repressão contra inflingentes da lei (nesse caso, os políticos corruptos) seria eficiente contra a corrupção no Brasil atual. Como exemplo, veja este vídeo “Convite do general” que convida os manifestantes à se aliarem a Intervenção Militar: https://www.youtube.com/watch?v=UN6btf166fs).
Para quem não viveu essa experiência inesquecível visite este quiz proposto pela Editora Abril que convida você a viajar pela linha do tempo e descobrir qual teria sido a sua trajetória caso vivenciasse a Ditadura Militar no Brasil: http://super.abril.com.br/jogo-ditadura-militar/ .
O quiz lhe fez perceber como seriam as consequências das suas escolhas atuais naquela época? Perceba que a grande falta de liberdade de expressão é predominante e que a maioria dos jovens daquela época sofriam com a repressão. Será que seria mesmo só “eficiente contra a corrupção”?
por Caroline Costa e Silva
Núcleo de Linguagens do Ensino Médio
Um espaço qualificado de discussão. Muito legal a maturidade dos alunos e alunas que participaram com suas postagens e de todos em sala com a proposta.
Prezados educadores, Nos protestos de 15 de março e mais recentemente de 12 de Abril, aonde aproximadamente 2,6 milhões de brasileiros sairam as ruas, apenas uma pequena minoria, isolada, irrelevante e não representativa saiu as ruas reivindicando a intervenção militar (não a volta da ditadura). Não creio que vocês educadores deveriam abrir esta discussão com os alunos. Estamos apenas alimentando um debate inútil. Porque não discutir com os alunos, as verdadeiras reinvindicações dos maiores protestos da história da democracia brasileira? A população brasileira pede/clama nas ruas por: 1) Fora governo do PT, 2) O impeachment da Presidente Dilma, 3) O Fim da Corrupção, 4) Apoio ao MPF/Polícia Federal/Justiça Federal 5) CPIs no BNDES/Fundos de Pensão das estatais, 6) Investigação sobre o Foro de São Paulo e envio de dinheiro brasileiro a Cuba. 7) Fim deste governo populista, ineficiente, corrupto e que está levando o país a inflação, estagnação econômica, desemprego, perda de credibilidade internacional e descrédito mundial. Porque não abrir este debate? Espero que eu esteja equivocado e esta seja uma discussão regular dentro das salas de aula, aonde serão formados cidadãos brasileiros no futuro que podem acabar de vez com este modelo socialista populista que falhou em todos os lugares do mundo como União Soviética, China, Cuba e Coréia do Norte. Atenciosamente, Fabricio, um pai, profissional, cidadão, brasileiro e preocupado com o futuro do nosso Brasil.
Acredito que essa iniciativa foi de grande valor. Como historiadora, o que muitas vezes discuti com meus alunos foi sobre o quanto podemos nos responsabilizar pelo quanto conhecemos da realidade em que estamos inseridos. Usava como exemplo (extremo, eu sei) a ascensão dos regimes fascistas na Europa e o quanto milhares de pessoas buscaram acalmar suas consciências afirmando que não tinham conhecimento dos excessos cometidos. A meu ver esse debate não é inútil. Útil e urgente se faz sim criar situações para que esses jovens e alguns um pouco mais velhos que eles valorizem as práticas democráticas, as instituições democráticas, os códigos de civilidade necessários para se viver numa democracia: respeito ao resultado das eleições, defesa da livre manifestação de ideias, defesa do amplo direito de defesa, presunção de inocência até que se prove o contrário, valorização das iniciativas governamentais que aumentem a justiça social. Espero ainda que nossos alunos já tenham conhecimento suficiente para não identificar o que acontece no Brasil como experiência socialista. Seria sim um sinal de grande equívoco e de falta de aprofundamento no estudo da história. Como professora, eu retomaria o conteúdo dezenas de vezes até clarear os conceitos e expandir esse conhecimento.