Esse texto não é meu, mas traduz minha necessidade por viagem de uma forma tão próxima ao que sinto – e não consigo verbalizar – que, ao invés de escrever alguma coisa autoral, selecionarei fragmentos para colocar aqui…
Antes de copiar e colar as partes que mais me fazem sentido vos apresento Pico Yier, esse camarada viajante nascido na Inglaterra em 1957 e que depois de estudar em Eton, Oxford e Harvard iniciou sua vida de escritor em 1986. Em 1992 mudou-se com sua companheira para a área rural no Japão, de onde escreve e sai para suas marchas:
“Nós viajamos, inicialmente, para nos perder; e nós viajamos em um segundo momento, para nos encontrar. Nós viajamos para abrir nossos corações e olhos e para aprender mais do que os jornais são capazes de acomodar do mundo. (…) E nós viajamos, essencialmente, para que possamos ser jovens e nos apaixonar mais uma vez.
(…)
A liberdade soberana de viajar vem do fato de que tudo o que você tem como garantido e certo em mente é colocado como relativo e pode virar de cabeça pra baixo. Se um diploma pode ser um passaporte para uma vida de puro realismo, um passaporte pode ser um diploma de quebras de parâmetros e para uma viagem através do relativismo cultural.
(…)
Então, de certa forma, nós viajamos para mexer com as nossas estruturas e dar de cara com todas as urgências morais e políticas, os dilemas de vida e morte e mais todas as coisas que estamos protegidos quando estamos dentro de casa. E também viajamos para preencher as lacunas que serão deixadas pelas notícias de amanhã: Quando você dirige por uma rua de Porto Príncipe, por exemplo, onde não há asfalto e as mulheres fazem suas necessidades fisiológicas na rua ao lado de uma montanha de lixo, suas noções de internet e de “ordem mundial” são prontamente revisitadas. Viajar é a melhor forma que temos de resgatar a humanidade das pessoas e salvá-las da abstração da ideologia. E nesse processo, nós também salvamos as abstrações que fazemos de nós mesmos (…).”
O texto completo, em inglês, pode ser lido aqui: Why we travel?
E já que o clima é incentivar a viagem (fisicamente ou no pensamento), fica aqui a dica de um filme: A Map for Saturday, de Brook-Silva.
Rafa Dalbem
… e já dizia Saramago: “A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. (…) O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.” (Viagem a Portugal)
sim… dos poucos trechos otimistas que conheço do Saramago, hehe
esse livro é MUITO legal
Puxa, Rafinha, muito bacana essa teoria de viagem. Aliás há um belo livro exatamente com esse texto e que, de modo bem resumido, defende que a característica do viajante que há entre nós é algo que revela nossa alma nômade de remotos tempos… e que prossegue às vezes meio escondido em nós e às vezes, não dá para segurar, salta aos olhos. Afinal, viajar é muito bom para relativizar uma série de conceitos que facilmente sedimentamos,
Parabéns, Rafinha pela lembrança do tema e pela seleção dos textos,
Qual o nome desse livro Chicho?! Fiquei interessada em ler
Rafa: o nome do livro é “Teoria de Viagem: poética da geografia”, de Michel Onfray
L&PM editores, Porto Alegre, 2009. 111 págs.
Um abraço,
Chicho.