O post de hoje é breve, brevíssimo. Configura-se como um “manifesto”: nem comunista nem pela diminuição dos preços da passagem de ônibus, pela igualdade social e de direitos. Talvez, caso queiramos encontrar uma fórmula, poderia ser um Manifesto pela educação ao silêncio. Silêncio: me representa, seria o nosso bordão.
Ora, se somos seres de linguagem e por ela nos comunicamos de diversas formas, por que, então, o silêncio? Estaríamos propondo que o silêncio falasse? Mas não seria isso uma contradição performativo-proposicional? Na verdade, antes de fazermos o silêncio “falar”, desejamos permitir que o silêncio “deixe” falar. Que o nosso silêncio permita a manifestação do outro enquanto outro. Nos templos religiosos se exige o silêncio para que o eu se encontre com o tu, nós, eles e, por que não, com o eu-mesmo, consigo. Nas bibliotecas, pede-se silêncio para que a dispersão dos leitores pós-modernos possa se encontrar com os eternos amantes nomeados livros, páginas, parágrafos; encontro com o pensamento, já bem esquecido em nossa época. Os amantes, de modo sutil e nos momentos de maior cumplicidade, pedem ao outro o silêncio dos olhares, silêncio que fala e hipnotiza, silêncio que vincula, amarra… silêncio na forma de escuta e amor.
Nós também pedimos que o silêncio nos represente: silêncio que nos permita perceber o outro na sua singularidade; silêncio que seja caminho de reconhecimento da dignidade do conhecimento e da sua não redutibilidade à nossa imagem e semelhança; silêncio que leve a um lugar de escuta-de-si e de conhecimento de si. O inferno, diferente do que pensava Sartre, não são os “outros”. Mas a reunião de pessoas que apenas falam, mas não se comunicam. Vomitam frases desconexas, todavia são incapazes de escutar a palavra que emana da boca dos que estão à sua volta.
Mayco Martins Delavy
Texto curto mas profundo e irônico e com uma pitada de raiva. Você tem a mente iluminada e sabe flagrar os escaninhos para pescar o que precisamos. Força, bote os ovos sempre neste ninho!!
Comungo do manifesto pelo silêncio, palavra demais paga impulso de vida. Palavra de menos ou na tribuna trocada também subtrai impulso de vida. Ricas palavras as suas.
Comungo do manifesto pelo silêncio, palavra demais paga impulso de vida. Palavra de menos ou na tribuna trocada também subtrai impulso de vida. Ricas palavras as suas.