Estava acompanhando o alvoroço curitibano com a possível caída de neve, e a expectativa de 38 anos acabou na manhã no dia 23/07/2013.
Ah! Como é bonito… É bonita a neve e é bonito ver o curitibano orgulhoso da sua “curitibaneidade” reafirmada no ideal europeu. Sei que neve é legal e bonita e que todo mundo que tem vontade deveria ter a oportunidade de ver/tocar/comer.
Mas…
Sei também que Curitiba tem abrigos que suportam apenas 25% da demanda necessária e que todos os anos ocorrem mortes por frio nos estados sulinos (em Curitiba, ano passado, foram duas). E esses 25% de atendimento só existem porque a onda de frio dos últimos dias obrigou a criação de mais 350 vagas em seis abrigos da cidade. Curitiba conta hoje com mais de 4000 ‘vultos’. Morte por frio… Tenho certeza de que você que está lendo esse meu devaneio em seu trabalho ou sua casa sabe o que é doer de frio. Mas imagina doer de frio até morrer? E acompanhado disso vem o estômago vazio, o lar degradado, a falta de esperança…
Sei, ainda, que Curitiba é uma cidade como todas as outras, com direito de ter suas coisas boas e más (admito ter menos paciência com o lado ‘ruim’ de Curitiba… mas é tanta propaganda da perfeição que basta um pouco de senso crítico para que, vez ou outra, certa irritação venha à tona).
Tendo isso em mente, divulgo aqui o site que lista os locais que a prefeitura disponibilizou para a recolha de agasalhos e cobertores.
Quem puder, por favor, doe.
Rafaela Dalbem (professora de Geografia do Colégio Medianeira).
Rafa, obrigado pelas palavras. Ao ler o teu texto, recordei-me do velho e conhecido Bandeira:
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
O que me assusta nos casos apontados por você e naqueles tantos outros que presenciamos diariamente, não é apenas a animalidade “imposta” ao ser humano roubado de si mesmo, mas a violência do bicho homem que enxerga, anota, tira fotos, tabula os dados, calcula e, depois de tudo isso, vira as costas para o Outro e continua, bovinamente, a sua vidinha desprovida de sentido algum…O que assusta é a frieza dos corações…Mais uma vez, obrigado!!
“O que assusta é a frieza dos corações…”
Isso, de fato, é o que mais me assusta…
Obrigada pelo lindo comentário Mayco!
Rafa: bela descrição da realidade mais dura e crua do frio: o sofrimento para quem convive com ele literalmente à flor da pele. Aproveito para parabenizar a interação de Mayco e a precisa analogia com o poema de Manuel Bandeira.
Valeu a discussão!