Embora não tenha uma formação relacionada ao estudo da mobilidade urbana, esse é um tema que cada vez mais me chama à reflexão. Por um lado, certamente, pela necessidade de ter que me locomover pela cidade, uma tarefa cada vez mais difícil nos tempos atuais. Por outro, pela facilidade de ser conduzido a reflexões quando penso no assunto. Vou compartilhar aqui a última delas, resultado do último seminário de estudos no Colégio Medianeira.
Chama-nos atenção o quanto Curitiba aparenta ser uma cidade livre de problemas que acometem outras metrópoles brasileiras. Aparentemente, trata-se de uma cidade com um tecido urbano homogêneo, sem disparidades socioeconômicas de suas construções e de seus bairros centrais. Um resultado do planejamento urbano que buscou, em detrimento da melhoria das condições de vida de suas populações marginalizadas, marginalizá-las de fato, isolando-as para as periferias.
Embora tais populações possam ser escondidas do miolo urbano, possuem grande importância para ele. São trabalhadores, constroem, limpam, organizam a cidade e precisam, para isso, adentrar lhe. Neste momento, entra novamente a ação do governo, agora para trazê-los de volta à cidade. E isso deve ser feito da forma barata e eficiente – para ele governo e não para os usuários, é claro.
Nesse sentido, vejo que a organização radial dos eixos da cidade cumpre com sua função de forma extraordinária. São necessários poucos e grandes ônibus nos quais podem ser transportadas várias centenas de trabalhadores. Ainda, economiza-se em linhas e funcionários. Em suma, é o transporte dos sonhos para qualquer capitalista e de quebra, um trunfo político.
Adjacente às vias expressas, o trânsito é planejado às outras classes. Aquelas que podem desfrutar da posse dos veículos individuais, transitando nas três ou quatro faixas das vias rápidas. Um rápido momento de aproximação entre as classes, ainda assim separadas por um quarteirão.
Porém, a partir de 2003, no governo Lula, a aumento do crédito somado à melhoria das condições macro e micro econômicas possibilitou que as classes mais simples pudesses adquirir o veiculo individualizado, inflando a malha viária das grandes cidades. E não foi diferente em Curitiba. O planejamento urbano não previa a democratização do transporte individual, mas sim sua elitização. O resultado disso, presenciamos diariamente em nossos deslocamentos pela cidade.
Vejo que em breve teremos que superar este modelo dual de transporte – coletivo para classes baixas e individual para médias e altas. É nesse momento que novos projetos de mobilidade devem ser idealizados e implementados, rompendo as questões da classe permeadas no trânsito urbano. Afinal de contas, estamos todos envolvidos na problemática e somente transformações estruturais e ideológicas serão realmente eficazes para suas soluções.
Guilherme Dal Moro
Guilherme,
também adoro esse tema, e mais ainda Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá, que tem considerações super interessantes sobre a mobilidade urbana. Vale a pena uma lida:
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1109371-governos-devem-cobrar-caro-pelo-uso-do-carro-diz-consultor.shtml
beijo,
Olá Guilherme. Gosto da ideia de espaços urbanos públicos, de democratização das vias e praças. Lamento que isso, em geral, tem ficado mais para o mundo de U-topos (do não-lugar físico). Que agradáveis saudades da Praça em frente ao Palácio Iguaçu quando lá ocorriam espetáculos culturais (shows musicais com Jorge Mautner, Blindagem, João Lopes…). Reunia muita gente, de certa forma de diferentes grupos sociais. O agito, geralmente, ficava apenas por parte da cultura.
Cultivar os espaços públicos é possível.